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segunda-feira, 21 de março de 2011

Para não dizer que não falei de BBB

Eu tinha 10 anos quando foi exibido pela primeira vez o Big Brother Brasil (BBB). E não nego, acompanhei aquela edição do programa do início ao fim. Hoje, 11 anos mais velho, posso admitir que o reality show não agregou nenhum tipo de conhecimento para mim. E com o final da décima primeira edição do BBB se aproximando, resolvi escrever este texto revelando que só fui mais um a contribuir para a queda da audiência do programa.

Em seu primeiro mês no ar, o "Big Brother Brasil 11" registrou a audiência mais baixa de todos os tempos. Até 24 de fevereiro, o reality show teve, em média, 25,2 pontos no Ibope, quase metade dos 45,7 pontos registrados na quinta edição, seis anos atrás (cada ponto equivale a 58 mil domicílios na Grande São Paulo). O programa, dirigido por Boninho, está em queda livre desde 2005, quando conquistava quase 70% dos televisores ligados. Agora, são 41%, média relativamente baixa para a Globo.

Contrariando os números, o apresentador do BBB, Pedro Bial, afirmou para o Globo.com, em fevereiro do ano passado, que da favela aos intelectuais, todo mundo acaba assistindo o programa. “Assim que eu chamo a votação já começamos com meio milhão de votos. É impressionante. Todo mundo vê e não tem como negar”, disse Bial.

Em crônica denominada "A Vergonha", atribuída com o pseudônimo de Luis Fernando Veríssimo, que circula na internet desde 2010, o autor tece duras críticas ao BBB, culminando por chamá-lo de "a vergonha da mídia televisiva brasileira", por ferir as regras dos bons princípios morais e éticos, e por nada acrescentar de útil em termos de informação, deixando claro que os objetivos do programa são somente os níveis de audiência e o dinheiro ganho de anunciantes, patrocinadores e ligações telefônicas por parte dos telespectadores. Para justificar suas afirmações, o autor de “A Vergonha” ainda expõe fontes e números. Leia o que ele descreve:

“...Veja o que está por de trá$ do BBB: José Neumani, da Rádio Jovem Pan, fez um cálculo de que se vinte e nove milhões de pessoas ligarem a cada paredão, com o custo da ligação a trinta centavos, a Rede Globo e a Telefônica arrecadam oito milhões e setecentos mil reais. Eu vou repetir: oito milhões e setecentos mil reais a cada paredão.
Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia se fosse dedicada a programas de inclusão social: moradia, alimentação, ensino e saúde de muitos brasileiros?
(Poderiam ser feitas mais de 520 casas populares; ou comprar mais de 5.000 computadores!)...”


Contudo, Luis Fernando Veríssimo desmente a autoria de “A vergonha” com outra crônica (esta sim feita por ele) de nome “Outro você”, que foi publicada no Blog do Noblat, em 4 de abril de 2010. No texto, o escritor revela que é mais um que não assiste ao BBB. Sinta a ironia nas palavras de Veríssimo:

“...Não poderia escrever nada sobre o ‘Big Brother Brasil’, a favor ou contra, porque sou um dos três ou quatro brasileiros que nunca o acompanharam.
O pouco que vi do programa, de passagem, zapeando entre canais, só me deixou perplexo: o que, afinal, atraía tanto as pessoas — além do voyeurismo natural da espécie — numa jaula de gente em exibição?
Falha minha, sem dúvida. Se prestasse mais atenção talvez descobrisse o valor sociológico que, como já ouvi dizerem, redime o programa e explica seu fascínio. Pode ser. Os ‘Big Brothers’ e similares fazem sucesso no mundo todo. Provavelmente eu e os outros três ou quatro resistentes apenas não pegamos o espírito da coisa...”


BBB lucra mesmo com audiência em queda
Segundo a Folha de S. Paulo, mesmo com a audiência do BBB em declínio, o faturamento com o programa tem aumentado. “A atual edição rendeu à emissora cerca de R$ 380 milhões. A cota principal de patrocínio, que custava R$ 13,5 milhões no ano passado, hoje é vendida a R$16,9 milhões”, informou a edição de 6 de março de 2011 do jornal.

Para justificar o aumento na arrecadação, Mônica de Carvalho, vice-presidente de mídia e business da DM9, agência que anuncia quatro produtos no BBB, diz que, embora a audiência caia, "o resultado ainda é muito significativo". "O BBB pode estar caindo na TV aberta, mas ele é hoje uma plataforma. Está nos canais a cabo, no Twitter, em várias páginas da internet”, disse Mônica para a Folha de S. Paulo.

Ainda de acordo com o jornal, “a Globo está em conversas com a Endemol (empresa dona do formato) para transmitir o programa até 2020”. Para a alegria de seus fãs e tristeza de telespectadores como eu, que apreciam informação, cultura e entretenimento de verdade na TV aberta.

Gosto muito da programação da Rede Globo, sobretudo, acredito que a emissora está no top five das grandes TVs públicas no mundo (referência em jornalismo; novelas; minisséries; cobertura esportiva e humor de qualidade, como “A Grande Família”, por exemplo), mas, concordar com a massa que BBB é bom aí já é demais. Talvez até tenha afirmado isso um dia, acho que há 11 anos atrás, quando era viciado em tantas outras coisas fúteis que publicidade televisiva me “obrigava” a idolatrar.

Só para você ter uma ideia, o BBB é tão bom que nem mesmo seu apresentador gostaria de participar como brother. “É uma exposição muito grande e além disso eu tenho muitas manias. Talvez, se eu tivesse meus vinte poucos anos. Mas acho que ia tentar ganhar meu um milhão e meio de reais aqui fora trabalhando”, ressaltou Pedro Bial, em entrevista ao Globo.com.

O escritor, jornalista e ambientalista, Vilmar Berna, descreve com propriedade sua opinião sobre o BBB. E para finalizar este texto, faço minhas as palavras dele:

“...Difícil saber quem influencia quem, se o programa ou a audiência. Parece que os meios justificam os fins e já não importa quem vença no final, desde que vença. Tende a nivelar por baixo a natureza humana, a expor como entretenimento o que existe de pior em nós, egoísmo, individualismo, uso e manipulação dos outros para atingir objetivos pessoais, como se fossem atitudes naturais, que devemos aceitar como parte do jogo da vida.
Os valores ruins, que ensinamos aos nossos filhos a não ter, são reforçados como bons ou como não tão ruins assim, dependendo das circunstâncias e do que estiver em jogo...”.


Leia mais:
"A Vergonha"
"Outro você"
"Heróis de verdade", por Vilmar Berna
Pedro Bial revela como cria seus discursos de eliminação do BBB

2 comentários:

Cintia Ferreira disse...

e é aquela pergunta de sempre: o povo assisti porque é o que tem, ou é o que tem porque o povo assiste?

Não sei. Quem sabe?

Bjo Juan

Vinícius Paes disse...

Eu não sou o ativista anti-big brother. hahahaha. Concordo contigo, que o programa é atrelado a fúteis valores humanos, para provocar um falso entrenimento. Se a culpa é da mídia, ou do povo, nem é a questão. Quanto a isso eu atrelo a culpa majoritária, ao sistema, cultural e político no qual estamos inseridos. É uma questão cultural do brasileiro, se interessar por coisas de fácil digestão intelectual, é culpa do governo, dar tanta liberdade assim pra empresas privadas de comunicação e entretenimento, não desenvolvendo uma lei que obrigue que as empresas do ramo dedique uma porcetagem maior da sua programação no horário nobre para a formação cultural e intelectual. Quando disse que não sou anti-big brother, é que não é este o único programa de baixo nível na televisão brasileira. As atuais tele-novelas deixaram de lado a questão artística da dramaturgia, e hoje criam discussões falso-moralistas, de baixa reflexão... com diálogos juvenis e enredos repetitivos. Os telejornais, em sua maioria, tratam o espectador como palhaço, fazendo suas coberturas tendenciosas e jogando migalhas de informação e, nós, feito pombas, ficamos satisfeito... daí, mas sempre fica um vazio, no final da noite... assim como as pombas a gente mata o resto da fome com merda, no caso o BBB. Outra questão é, quem consegue assistir tevê aberta no final de semana? Não há nada que se salve, nada. Isso porque estou me resumindo a televisão, se fosse falar de rádio, impressos periódicos e etc, a coisa ficaria pior. Enfim, essa é a indústria cultural, assunto que não dá pra discutirmos aqui e sim numa mesa de bar.
Mas, voltando ao BBB, o que mais me irrista é aquele comentário de um bando de pseudo-intelectuais babacas: "Porra! Mas o Bial, não precisava disso, ele é um homem tão culto, tão talentoso". Hahahaha.
Eu, realmente, tenho pena de quem considera o Pedro Bial um grande jornalista, um grande intelectual, um grande crônista, ou um grande qualquer merda. Pedro Bial é uma farsa e sempre foi, o rei da pseudo-intelectualidade brasileira (e olha que é uma classe muito grande)eu encontro mais sabedoria num buteco-copo-sujo de esquina, do que em crônicas de Pedro Bial. Pior que todo o contexto do lixo que é o BBB, o ponto alto dessa merdarada toda, são os cagalhões de Pedro Bial, no momento da eliminação. Malditas crônicas, mal escritas, com um sentimentalismo de merda, com mensagens de merda, com um intelectualismo de merda.
Enfim, não sei se deixei claro meu pensamento em relação a tudo isso, sou péssimo em sintetizar as coisas... não seu resumir. hahahaaha. Mas, é mais ou menos por aí, o resto da conversa a gente pode ter numa mesa de bar, com cerveja, daí fica mais claro.

ps: Outra coisa que me deixa puto, são aqueles que dizem... ah, mas que motivo leva um ex-bbb a se considerar artista? Eu respondo: o mesmo que faz de Luan Santana, ou Latino, ou Fernando e Sorocaba, ou Bruna surfistinha, ou qualquer outra merda dessas, artistas.

Abratz, mano. E cola pra cá,logo, pra gente toma e falar e falar.