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terça-feira, 7 de setembro de 2010

Fugidinha

Descemos um, dois, três quarteirões, olhando para todos os cantos da rua. Não demorou muito para o acharmos, porém, com aqueles portões de ferro, o boteco estava mais perecendo uma penitenciária de segurança máxima do que um bar propriamente dito.

Antes mesmo de entrarmos, meu primo já havia avistado um violão sobre a mesa. Pensou: “Vou tocá-lo!”. Sendo um bom motivo para pedirmos nossa cerveja naquele lugar mesmo. Sentamos de canto, ao lado da mesa de sinuca e de frente com a mesa onde estavam quatro homens proseando.

“Mega-sena? Eu não jogo para não ganhar. Já pensou se dá um ‘azar’ e eu ganho, daí acabou a minha vida!”, disse um dos homens da mesa da frente, lembrando que vida boa é a que ele tem vivido e que se ganhasse o prêmio, ele e sua família ficariam na mira de criminosos . Os outros três deram risada, e mesmo reconhecendo os perigos de se tornar um milionário, gostariam de faturar os mais de 90 milhões de reais que estavam em jogo naquela noite.

Enquanto eu ainda refletia o pensamento daquele senhor, meu primo tentava achar uma forma de chegar mais próximo do violão. Foi então que ele tomou coragem e perguntou para os homens de quem ele era. Para a sua felicidade, era do bar, e estava ali disponível para os fregueses que desejassem tocar.

Parecendo dois boêmios, permanecemos em nossa mesa tomando cerveja naquele início de noite de sábado, mas agora na companhia do velho violão, tocando chorinho e MPB. Não demorou muito e um dos homens da mesa da frente pediu para que tocássemos uma moda de viola... E foi assim que nos enturmamos.

Um minuto de silêncio... Uma das cordas do vilão havia quebrado. “Não esquenta cara. Vou pegar o outro ”, disse o mais novo dos senhores que tínhamos acabado de fazer amizade. O homem não só pegou outro violão como voltou para a mesa com uma timba. Foi então que iniciamos um sambinha... E a alegria tomou conta do bar.

Meu primo passou o violão para o homem que não queria ganhar a mega-sena (ele tocava demais!) e ficamos só curtindo o momento ao lado daqueles senhores, que pareciam ser aposentados, tirando o que estava tocando a timba, que deveria ter seus 45 anos, a metade do mais velho na roda, o que cantava músicas de Zé Kéti e Nelson Gonçalves com perfeição.

“Garçom, desce mais uma, porque o mundo vai acabar amanhã!” (risos). Ficamos ali por volta de uma hora, tempo suficiente para fazer daquele instante único. Inesquecível para os quatro homens, que falaram em determinado momento na mesa que aquele bar era de velhos, e que jovens não gostavam daquele tipo de ambiente. Engano deles! Pois aquela noite foi ainda mais inesquecível para nós, dois rapazes de 20 e 23 anos, que há uma hora atrás estavam em um aniversário de criança, no qual estava sendo servido refri e suco de laranja como bebida, e as músicas tocadas eram as do volume 1, 2 e 3 do “Xuxa só para baixinhos”.

Ficamos no boteco só por uma hora porque tínhamos que voltar a tempo do parabéns. E por incrível que pareça, chegamos exatamente na hora do dito cujo. Enquanto comíamos o bolo, ainda pensávamos como nossa fugidinha tinha sido proveitosa. Quem diria que ela pudesse se transformar naquele momento tão maravilhoso - se eu já pensava que a alegria está nas coisas simples da vida, naquela noite pude ter a certeza de que este pensamento é mais que correto... E foi assim que “penitenciária de segurança máxima” se transformou num verdadeiro botequim dos boêmios da noite carioca. Chico Buarque, Vinicius de Moraes, Paulinho da Viola e Toquinho, sem dúvida alguma, ficariam com inveja da gente.





Desculpem pela péssima qualidade dos vídeos, já que o mais importante é sentir a alegria do momento!

4 comentários:

Hanna disse...

Oi Juan!
Confesso que quando li o título imaginei um outro tipo de texto rs...
Fugiu da festinha hein?! Festa de criança é sempre assim, nada atrativa aos adultos rs , ainda bem q encontraram esse tal bar, e senhores cativantes!

mais achei bem legal...o esse post, acho que por conter fotos e videos...parece que o fato acontecido, fica ainda mais próximo do leitor hehe

bjão!

Dayane Soares Vicente disse...

(Tenho pra mim, que esse blog não gosta da minha pessoa! Já tinha comentado, eee não sei o que houve que não está aqui.)
Anyway...

Não. eu nunca dei uma fugidinha. haha. Mas essa me pareceu ótima.

Fugidinhas saem melhor que saidinhas programadas, às vezes.

E o pessoal ai do bar tinha um nível de cultura, invejável ein. Muito legal!

Bjos

Vinícius Paes disse...

Santo boteco... ahhahhhahaa

Chorinho sim heim!


O seus textos são muito longos pra um blog... então não reclame se minha passagem por aqui for inconstante.

abratz

Anônimo disse...

Aonde é esse bar amigo? Quero dar uma passada aí