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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Mas afinal, o que querem as mulheres?

Depois de ter estudado praticamente tudo sobre a mente humana, Sigmund Freud (1856-1939) reconheceu não ser capaz de responder a apenas uma questão que englobava o universo da psicanálise: “Afinal, o que querem as mulheres?”. Decorridos vários anos após sua morte, a pergunta já foi tema de livro: “O que as mulheres querem?” (What do women want?), de Erica Jong; filme: “Do que as mulheres gostam?” (What woman want), protagonizado por Mel Gibson; e até minissérie Global, que levava o mesmo título da indagação freudiana. Por sua vez, em nenhum dos enredos uma resposta plausível foi revelada ao público.

Se nem Freud, Rede Globo, grandes escritores e cineastas foram capazes de descobrir o que realmente desejam as mulheres, não seria Pablo, um pobre mortal, habitante da pacata Santa Fé do Sul, interior de São Paulo, que iria dar resposta para a questão mais complexa já formulada.

Aos 14 anos, Pablo ficou apaixonado pela primeira vez. Garoto inteligente, dedicado aos estudos e muito recatado, cresceu rodeado de poucos amigos. Entretanto, Luizinha, que vinha transferida de uma escola da Capital e, com muitas dificuldades para se adaptar à rotina da classe de Pablo, decidiu aproximar-se dele. Com pouco mais de dois meses, o guri acreditava estar amando sua mais nova companheira de trabalhos escolares e resolveu se declarar, imaginando que seu amor estava sendo correspondido. Para a sua surpresa, Luizinha se afastou depois que ele expôs seus sentimentos. A mocinha lhe convenceu que “não rola amor entre grandes amigos”, pois, ao final do relacionamento, “uma grande amizade também se vai com o término da paixão”. Pior que não poder viver ao lado da amada, Pablo não encontrou resposta para o distanciamento da garota depois do “fora”, mesmo após já ter se acostumado com a justificativa dela.

Passada a decepcionante experiência amorosa, Pablo prometeu para si mesmo que jamais se envolveria com uma amiga ou sequer deixaria passar pela sua cabeça esse desejo. É claro que não foi fácil cumprir a promessa. Nos três anos seguintes, duas outras amigas fizeram tal proposta, e ele saiu pela tangente repetindo o discurso que aprendeu com Luizinha.

Dos 14 aos 17 anos, Pablo literalmente “passou o trator”, “pegou e não se apegou”. O garoto resolveu aproveitar o tempo perdido, na tentativa de esquecer o amor pela ex-colega de classe. Contudo, foi numa bela quermesse que o guri se viu novamente “laçado”. Dessa vez, com a ajuda de uma prima, foi apresentado à garota mais linda de seu bairro, Amanda. E os dois “ficaram”. Mantiveram um relacionamento de seis meses. Pablo se entregando ao amor e a guria sempre muita fria, calculando cada passo. Tava na cara que pouco iria durar, e a “ficada” acabou com a garota se derretendo para outro cara.

No ano seguinte, Pablo entraria na faculdade, para ser novamente um dos melhores alunos da classe. Durante o curso de Engenharia Ambiental, resolveu dedicar-se única e exclusivamente à aprendizagem, mas em vão. Uma garota das Ciências Sociais lhe chamaria a atenção - Priscila, metendo-lhe em um plano ousado. Pesquisou em redes sociais e com os amigos da guria na universidade o que ela gostava. E no dia do aniversário dela, chamou-a para uma conversa no intervalo, após trombá-la “acidentalmente” no corredor, na hora da entrada. E foi assim que Pablo declarou-se novamente para alguém, com frases certeiras e munido do presente que mais agradaria a garota: um livro de Jorge Amado. O discurso apaixonado colou e os dois permaneceram juntos por quase um ano, numa relação cheia de idas e vindas. Depois que brigaram pela última vez, Pablo, sempre ele, baixou a guarda e pediu desculpas, mas Priscila já não estava mais disposta a voltar – queria “dar um tempo para o amor”. Duas semanas depois, ela desfilava de mãos dadas pelos corredores da faculdade com outro rapaz. E Pablo chorou pela primeira vez por causa de uma mulher.

Se as experiências amorosas, enquanto estudante, vinham fracassando, faltava tentar com uma colega de trabalho. E Caroline foi a escolhida. Primeiramente, atentou-se para que a relação não se transformasse numa grande amizade, depois, foi deixando claro, em verso e prosa, que estava gostando dela. Ela, que não é boba nem nada, naquele momento, não deixaria escapar aquele “partidão”, como as outras garotas da empresa o classificavam. E os dois iniciaram um relacionamento de três semanas. Ela acabara de terminar um namoro e ainda gostava do ex, e para ajudar, estava procurando a pessoa certa “tentando” com todas as outras opções que lhe apareciam. Sempre muito azarado no amor, Pablo era a alternativa errada do gabarito de Carol.

Lembra-se da Amanda? Então, não é que a garota voltou a procurar Pablo. Ela falou para a mesma prima que ajudou os dois a ficarem na quermesse que estava arrependida e queria tê-lo novamente em seus braços. Dessa vez foi ela quem o chamou para uma conversa e, no meio do discurso, soltou um “eu te amo” e caiu em lágrimas. Era a primeira vez que Pablo tinha ouvido tais palavras. Também não conteve a emoção e, enfim, engataram um relacionamento sério, de fato.

Hoje Amanda continua fazendo uso do “jogo do amor”, e Pablo já não tem mais pique para decifrar os desejos da namorada. Ele ficou tão feliz quando ela o procurou e, na simplicidade, acabou se declarando, que, atualmente, se vê mais apaixonado lembrando-se daquela cena do que se deixando envolver pelo “charminho” da amada. Impaciente com tal situação, Amanda sente-se insegura com a “repentina” desistência de Pablo em procurar achar resposta para a pergunta de Freud. Com isso, agora ela vem tentando descobrir, com a ajuda de suas amigas, “o que querem os homens?”.

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei o texto. Tão interessante quanto impecavelmente correto!