O ano era 2020, quando a Covid-19 foi classificada pela Organização Mundial da Saúde como pandemia. Além do medo de ser infectado e, principalmente, transmitir a doença para meus familiares, estava desmotivado com o meu emprego da época. Com isso, passei a procurar por novas oportunidades de trabalho e, pela primeira vez, mais distantes da minha região.
Uma delas, apontada como de “empresa confidencial”, foi enviada para meu e-mail por indicação de um site de emprego. O que mais chamou atenção naquela mensagem foi que meu currículo atendia a 79% dos requisitos para a vaga. Mesmo sendo em São Paulo, onde imaginei que seria mais difícil “fugir” da Covid, além do medo de uma possível vida na metrópole nacional, decidi me candidatar. Em menos de duas semanas, fui contratado e já estava morando na Zona Leste com minha esposa e nossa bebê.
Sim, o “menino do interior” enfrentou dificuldades na Capital. A principal delas foi passar menos tempo ao lado da família: entre ida, trabalho e volta para o apartamento (aqui, cabe o registro que nasci e cresci em chácara, só mudando para um centro urbano depois de casado) eram aproximadamente 14 horas – em dias de semana, ver minha filha acordada era raro. E, como estávamos em fase de alerta do plano estadual de flexibilização econômica, curtir sábados e domingos na cidade grande era impossível. Para aliviar, meu time do coração estava na liderança do Campeonato Brasileiro, então, assistir seus jogos e vídeos de comentaristas esportivos pós-vitórias estavam servindo como uma terapia para mim.
Infelizmente, o São Paulo Futebol Clube caiu de rendimento nas últimas rodadas da competição e perdeu um título que parecia certo. Para diminuir minha decepção naquele final de ano, o técnico Fernando Diniz foi mantido no cargo. Não, não tenho vergonha de dizer que virei fã do “Dinizismo”!
Por esse motivo, eu era um dos poucos brasileiros empolgados com a estreia do Brasil nas eliminatórias da Copa do Mundo 2026. Estava curioso para ver o modelo de jogo do treinador em nossa seleção. E gostei do que vi em campo. Fora dele, porém, muito me chateou ver o choro do atacante Richarlison, após ser substituído durante a partida.
Na última terça-feira (12), em entrevista depois da vitória do Brasil contra o Peru, o jogador afirmou que iria buscar tratamento psicológico ao voltar à Inglaterra para defender o Tottenham. Hoje, também em coletiva de imprensa, o treinador de seu clube, Ange Postecoglou, prestou solidariedade, dizendo que o atleta terá todo o suporte que precisar.
Nascido na cidade de Nova Venécia, localizada no interior do Espírito Santo, Richarlison expôs a realidade de inúmeros profissionais de origem pobre. “Muitos têm o futebol como a forma mais rápida de ascender na carreira e tirar a família da comunidade. Para além da cobrança que o próprio esporte impõe, com a ânsia de mudar a realidade social dos seus, muitos exageram no nível de auto cobrança, o que pode acarretar em oscilações na performance”, informou a psicóloga Larissa Carlos, em depoimento ao ge.
Fui da pandemia à São Paulo e do São Paulo até Richarlison para concluir este texto com a seguinte reflexão: reconhecer que precisa de ajuda, especialmente na área da psicologia comportamental, é um dos maiores desafios do ser humano, portanto, jamais diminua o sentimento do outro! Certa vez, uma amiga me confidenciou que procurar tratamento psiquiátrico doeu tanto quanto o parto de sua filha... Atualmente, integro a rede de apoio dela. Quanto ao nosso camisa nove, parabenizo-o pela coragem do desabafo – esse foi o pontapé inicial na bola que o fará “voltar mais forte”.
Um comentário:
Só quem entende do assunto, com competência e sensibilidade, escreve assim! Parabéns, Juan!
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