Embora minha
reportagem de maior repercussão tenha destacado um grave problema ambiental em uma represa da minha cidade, quem me conhece sabe que eu prefiro contar as boas
histórias através do Jornalismo. Quando não consigo narrá-las, fico à procura
delas para compartilhar com vocês, a fim de estimular seus potenciais de
replicabilidade.
No último
sábado (29), acordei cedo para levar meu irmão a um compromisso. No carro, tratei
logo de ligar o rádio para me atualizar com informações - parei na CBN, que
tocava o Programa Caminhos Alternativos, e encontrei o que precisava para esta
publicação.
Você já ouviu falar
do programa Cultivando Água Boa? Desde 2003, ele é promovido pela Itaipu
Binacional, reconhecendo o recurso hídrico como universal, preocupado com os
impactos das mudanças climáticas e como mitigá-los, mas procurando agir
localmente na Bacia Hidrográfica do Paraná 3. “Mais do que um projeto
ambiental, ele é um movimento de participação permanente, que envolve a atuação
de aproximadamente 2 mil parceiros, dentre órgãos governamentais, ONGs,
instituições de ensino, cooperativas, associações comunitárias e empresas”,
destaca seu site.
Suas ações envolvem a
recuperação de microbacias, proteção das matas ciliares e da biodiversidade,
até a disseminação de valores e
saberes que contribuem para a formação de cidadãos dentro da concepção da ética
do cuidado e do respeito com o meio ambiente. “Se você não for lá onde tem a
nascente e recuperá-las, que é onde tem fonte de vida, você não vai poder
resolver o problema. Então, é da cabeça até os pés que você vai ter que atuar.
Isso, de novo, envolve as comunidades, porque se transforma a água num eixo
integrador, mas tem que fazer os nexos. Nós formamos muito mais para o mercado,
para serem profissionais do mercado, e nós estamos precisando formar seres
humanos, em que palpita o cuidado – quem ama cuida”, disse o diretor de
Coordenação e Meio Ambiente da Itaipu Binacional, Nelton Friedrich, para o
Caminhos Alternativos.
Inspirador do
projeto, o escritor, professor e teólogo, Leonardo Boff, também participou do
programa da CBN, para enfatizar a importância do Cultivando Água Boa. “Qualidade
de vida implica numa relação consigo mesmo, aceitar suas limitações, descobrir
suas potencialidades. Uma relação com o outro que não seja de concorrência - que
é a lei fundamental do mercado -, mas de cooperação, de entrelaçar as mãos por
um projeto comum. Qualidade de vida implica também uma relação ligada com a
natureza [...]. E eu fico muito contente em saber que essa dimensão foi
explorada aqui no projeto; e se a palavra ‘sustentabilidade’ tem algum
significado, de alguma realização, ela tem uma realização, um significado no
Cultivando Água Boa”, afirmou Boff.
“O Nelton e o
seu grupo começaram pela porta certa: sensibilizando, primeiro, as pessoas. Se
não há uma vontade de envolvimento com a causa, nada se move, ela fica teórica,
fica uma ideia, mas não entra num processo de realização [...]. Por de trás, há
uma opção ética, de humanizar àqueles que são mais vulneráveis, e aí foram
envolvendo de tal maneira que todos ganharam o entusiasmo - entusiasmo é ter um
Deus dentro, que nos move”, completou o professor.
O diretor ressaltou a
importância de uma metodologia de trabalho para o sucesso do programa, não
ficando a mercê de circunstâncias. “Promovemos uma metodologia em cada
microbacia, reuniões de sensibilização, e retiramos a palavra ‘culpado’. Se
você quer agregar forças, você não tem que ficar apontando culpados, e é uma
ideia fantástica de se construir a responsabilidade compartilhada”, comentou Friedrich.
Pois é, mas
por trás disso há uma empresa como a Itaipu, que é uma das mais ricas do país.
Assim fica fácil desenvolver projetos como esse, não é mesmo, seo Nelton? “O
grande papel de uma prefeitura, de uma universidade, de uma ONG é articular as
forças, não é colocar dinheiro. Articular as forças, compartilhar sonhos,
dividir responsabilidades e somar esforços”, respondeu Friedrich.
Tanto o
diretor como o professor consideram que o processo de mudança do mundo que
temos para o mundo que queremos e precisamos depende de um entendimento da
importância da cidadania planetária. É possível que você faça a sua parte, mas
também busque aliados para ações maiores. Inspirado em Gandhi, cada um tem que
ser a mudança que o planeta precisa.
Segundo o
idealizador do Cultivando Água Boa, pensar com ação é transformador. “Evidente
que a gente conseguiu ter resultados quantitativos extraordinários, mas a
melhor métrica é o encantamento, onde você vê milhares e milhares de pessoas
envolvidas numa causa comum”, conclui o diretor do projeto.
Ouça a
entrevista completa de Boff e Friedrich ao Caminhos Alternativos:
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