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terça-feira, 2 de dezembro de 2014

‘Eu queria mudar, eu queria mudar’... Um projeto que prova ser possível!

Embora minha reportagem de maior repercussão tenha destacado um grave problema ambiental em uma represa da minha cidade, quem me conhece sabe que eu prefiro contar as boas histórias através do Jornalismo. Quando não consigo narrá-las, fico à procura delas para compartilhar com vocês, a fim de estimular seus potenciais de replicabilidade.

No último sábado (29), acordei cedo para levar meu irmão a um compromisso. No carro, tratei logo de ligar o rádio para me atualizar com informações - parei na CBN, que tocava o Programa Caminhos Alternativos, e encontrei o que precisava para esta publicação.
Você já ouviu falar do programa Cultivando Água Boa? Desde 2003, ele é promovido pela Itaipu Binacional, reconhecendo o recurso hídrico como universal, preocupado com os impactos das mudanças climáticas e como mitigá-los, mas procurando agir localmente na Bacia Hidrográfica do Paraná 3. “Mais do que um projeto ambiental, ele é um movimento de participação permanente, que envolve a atuação de aproximadamente 2 mil parceiros, dentre órgãos governamentais, ONGs, instituições de ensino, cooperativas, associações comunitárias e empresas”, destaca seu site.
Suas ações envolvem a recuperação de microbacias, proteção das matas ciliares e da biodiversidade, até a disseminação de valores e saberes que contribuem para a formação de cidadãos dentro da concepção da ética do cuidado e do respeito com o meio ambiente. “Se você não for lá onde tem a nascente e recuperá-las, que é onde tem fonte de vida, você não vai poder resolver o problema. Então, é da cabeça até os pés que você vai ter que atuar. Isso, de novo, envolve as comunidades, porque se transforma a água num eixo integrador, mas tem que fazer os nexos. Nós formamos muito mais para o mercado, para serem profissionais do mercado, e nós estamos precisando formar seres humanos, em que palpita o cuidado – quem ama cuida”, disse o diretor de Coordenação e Meio Ambiente da Itaipu Binacional, Nelton Friedrich, para o Caminhos Alternativos.
Inspirador do projeto, o escritor, professor e teólogo, Leonardo Boff, também participou do programa da CBN, para enfatizar a importância do Cultivando Água Boa. “Qualidade de vida implica numa relação consigo mesmo, aceitar suas limitações, descobrir suas potencialidades. Uma relação com o outro que não seja de concorrência - que é a lei fundamental do mercado -, mas de cooperação, de entrelaçar as mãos por um projeto comum. Qualidade de vida implica também uma relação ligada com a natureza [...]. E eu fico muito contente em saber que essa dimensão foi explorada aqui no projeto; e se a palavra ‘sustentabilidade’ tem algum significado, de alguma realização, ela tem uma realização, um significado no Cultivando Água Boa”, afirmou Boff.
“O Nelton e o seu grupo começaram pela porta certa: sensibilizando, primeiro, as pessoas. Se não há uma vontade de envolvimento com a causa, nada se move, ela fica teórica, fica uma ideia, mas não entra num processo de realização [...]. Por de trás, há uma opção ética, de humanizar àqueles que são mais vulneráveis, e aí foram envolvendo de tal maneira que todos ganharam o entusiasmo - entusiasmo é ter um Deus dentro, que nos move”, completou o professor.
O diretor ressaltou a importância de uma metodologia de trabalho para o sucesso do programa, não ficando a mercê de circunstâncias. “Promovemos uma metodologia em cada microbacia, reuniões de sensibilização, e retiramos a palavra ‘culpado’. Se você quer agregar forças, você não tem que ficar apontando culpados, e é uma ideia fantástica de se construir a responsabilidade compartilhada”, comentou Friedrich.
Pois é, mas por trás disso há uma empresa como a Itaipu, que é uma das mais ricas do país. Assim fica fácil desenvolver projetos como esse, não é mesmo, seo Nelton? “O grande papel de uma prefeitura, de uma universidade, de uma ONG é articular as forças, não é colocar dinheiro. Articular as forças, compartilhar sonhos, dividir responsabilidades e somar esforços”, respondeu Friedrich.
Tanto o diretor como o professor consideram que o processo de mudança do mundo que temos para o mundo que queremos e precisamos depende de um entendimento da importância da cidadania planetária. É possível que você faça a sua parte, mas também busque aliados para ações maiores. Inspirado em Gandhi, cada um tem que ser a mudança que o planeta precisa.
Segundo o idealizador do Cultivando Água Boa, pensar com ação é transformador. “Evidente que a gente conseguiu ter resultados quantitativos extraordinários, mas a melhor métrica é o encantamento, onde você vê milhares e milhares de pessoas envolvidas numa causa comum”, conclui o diretor do projeto.
Ouça a entrevista completa de Boff e Friedrich ao Caminhos Alternativos:

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