A cultura acompanhou o progresso técnico e ideológico pelo qual o mundo vem passando diariamente, seguindo as políticas neoliberais. Enquanto os indivíduos desenvolveram ideais de pouco uso, descarte fácil e reprodução imediata, a cultura se industrializou com a função da padronização e da produção em série, seguindo as orientações da economia contemporânea.
A indústria cultural revela um esquema de procedimentos nos quais os produtos mecanicamente diferenciados acabam por se revelar como a mesma coisa, tendendo cada vez mais a se uniformizarem. O consumidor não necessita mais classificar, o esquematismo da produção já realiza esse processo. E agora, o mundo inteiro é forçado a passar pelo filtro da indústria cultural, mesmo que inconscientemente.
A harmonia com que estão dispostos os produtos faz com que as pessoas sintam a necessidade de consumi-los. Antes mesmo de chegarem às prateleiras eles já podem ser observados nos catálogos publicitários da indústria cultural. Caso os catálogos não aumentem a demanda, os produtos podem ser divulgados na mídia áudio/televisiva, onde o desejo de obtê-los seria mais facilmente estimulado. A população tornou-se refém das associações habituais, e qualquer tipo de esforço intelectual ou qualquer voto contrário à produção em massa será barrado pela cultura industrializada, pois somente é aceitável a falta de sentido.
A função da distração imposta pela indústria cultural está mais ligada à alienação do espetáculo do que à busca autoritária do espectador por entretenimento. Acompanhar tudo e reagir com presteza àquilo que o espetáculo exibe e propaga é a função dos alienados, já que ninguém pode ser ignorante à cultura revelada. A indústria do prazer denota o riso como um meio fraudulento de ludibriar a felicidade, pois é rindo que a humanidade se satisfaz. Contudo, a satisfação alcançada na indústria cultural é se arranjar com o que ela oferece, o consumidor compra pela marca (intensamente divulgada como um bem supremo) e não pela qualidade.
Divino é aquilo que se repete incessantemente, basta a mídia reproduzir que tudo se torna belo. Desde crianças já somos orientados ou obrigados a difundir os hábitos que nos são ensinados, quem se prostrar contra essa hierarquia será excomungado do atual sistema e, consequentemente, será lançado na solitária para revolucionários. O estado de bem-estar social produzido em grande escala leva a estaca zero o risco de impeachment dos dominantes da indústria cultural, já que o poder está com os economicamente mais fortes e estes, por sua vez, são idealizados pelas camadas sociais menos favorecidas (graças ao status - superior e glorificado - produzido pela cultura industrializada).
O sofrimento é aceito como parte do destino, pois o trágico tem um lugar fixo na rotina. Os indivíduos sorriem da dor que o sistema os proporciona de forma ritual e estereotipada, ao mesmo tempo em que se alegram com tantas coisas a ver e a se ouvir. Tudo se universalizou. O individualismo que, na verdade, nunca se realizou de fato, foi absorvido pela cultura de massa, não se pode mais nem sofrer sozinho, tem-se de partilhar sua dor com os membros da cultura industrializada, pois só eles tem o medicamento necessário para curar o sofrimento que eles próprios criaram.
A cultura se funde com a publicidade. Tudo aquilo que não traga um selo publicitário será economicamente suspeito na indústria cultural, o que não é difundido para a massa não terá valor, e posteriormente será eliminado, já que não foi sistematicamente repetido. A indústria fabrica, divulga e vende, os indivíduos consomem, estimulados basicamente pelo modismo. Este ciclo vicioso deve perdurar ainda por muito tempo, já que ser contrário à massa é ser “careta”. Refletir e criticar são atos perigosíssimos ao sistema neoliberal, e qualquer atitude revolucionária será abortada. As pessoas alienadas e manipuladas pelo sistema caminham como se fossem zumbis uniformizados, carregando o logotipo da indústria cultural no peito.
10 comentários:
Sem dúvidas hoje é exatamente isto que acontece, as pessoas vivem em um mundo que não é real. Elas acreditam em coisas que apenas irão trazer um prazer momentâneo e depois elas continuarão sozinhas e sem nada.Vivendo alienadas
em seu mundinho, buscando acompanhar está indústria que só faz massacrar cada vez mais o ser humano, o fazendo ficar cada vez mais seu escravo. Excelente texto, parabéns.
Sempre gostei desse tipo de texto, concordo com essa visão, cê sabe! Mas o que podemos fazer fazer contra tudo isso? Tentamos remar contra essa maré, nos convencer que há mais do que a mídia manipuladora tentar nos fazer engolir goela abaixo..mas é facil? Não. Mas como disse Chico "Mesmo com todo rock, com todo pop
Com todo estoque, com todo Ibope
A gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando
A gente vai levando esse toque"
Texto mui bueno!
Abraçooo!
Olá Juan.Gostei muito da maneira que você articulou o tema.
De uma forma clara, você abordou o real papel da rede midiática.A obrigatoriedade do consumo tem se tornado normal no nosso país.São propagandas em cima de propagandas, cerceando o nosso poder de escolha.
Precisamos nos atentar nessa linguagem apelativa utilizada nos comerciais.Somos capazes de fazermos nossas escolhas sem sermos induzidos a isso.
Abraços.
"As pessoas alienadas e manipuladas pelo sistema caminham como se fossem zumbis uniformizados, carregando o logotipo da indústria cultural"
Esse comentário explicou todo o tema. Basta olharmos ao redor e observarmos cidadãos comprometidos com aquilo que foi taxado de bom. Parabéns pelo texto. Muito bom!
Juan, parabéns pela escolha do tema. Certa vez, num debate na pós, falamos sobre a cultura e a indústrial que por trás dela.
Apesar de tornar tudo homogêneo, não é inteiramente má. Pois também se adapta às variações culturais de cada região. E também auxilia na propagação de um assunto em comum, mesmo que não venha a fazer diferença na vida das pessoas. Tem seus pontos negativos, como bem explicitados, mas há os positivos.
Parabéns pela abordagem do tema =)
Muito bom o post otima abordagem,é o capitalismo voraz faz com que cada vez aumenta a necessidade de consumir ate pra se adequar aos padrões imposto pela sociedade,o que importa não é o que você representa e sim o seus status,O mercado industrial se preucupa so com lucros,fazem de tudo para acender o capital,e nós consumidores viramos fantoches na mão das grandes corporações....
visite meu blog
http://progressocontinuo-progressocontinuo.blogspot.com/
esse seu post ate me inspirou a escrever fique tranquilo não vou plagiar não rs
Caro Juan, em pesquisa pela net, encontrei o seu blog por acaso. Observei o seu texto no qual o seu ponto de vista relata em ricos detalhes o q de fato éh a indústria cultural e como ele interfere em nossas vidas. Meus parabéns!
Gracinha de Souza
No geral, seu texto é interessante. Mas, há alguns pontos que necessitam de uma discussão mais ampla. Discordo de algumas colocações, mas, o discernimento da verdade aqui proposto agiganta o texto em si.
Rapaz, fazendo pesquisa sobre Adorno para um simples exercício de Teorias da Comunicação para a faculdade (também curso Jornalismo), eis que surge o seu blog e você consegue transmitir TUDO o que eu estava pesquisando de uma forma mais resumida e clara! Tive até que vir comentar!
Obrigado.
Alan
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